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Fim do mundo e minhas migalhas sobre esse assunto

Estamos na contagem regressiva para o fim do mundo — que conhecemos. Quem cresceu no início dos anos 2000 já ouvia sobre sustentabilidade e proteção da natureza porque a coisa “ia ficar feia”. Mal sabíamos nós que a situação, na época, já estava horrorosa. Muito também porque éramos crianças e o discurso chegava até nós com um arco íris de esperança e a promessa de que a nossa geração poderia fazer diferente. Nós salvaríamos o mundo, molezinha. Até porque outro discurso perigoso cresceu com a gente: nós moldamos enquanto seres humanos vendo, em primeira mão com nossos olhos de criança, a tecnologia mudar o mundo. Fomos a ponte para nossos pais e avós entre o antigo e o novo, enquanto desbravávamos um mundo que nem os adultos entendiam, mas nós o dominamos.

Parecia uma excelente forma de mudar o mundo. Afinal, mudou nossa forma de viver, de interagir e se relacionar. Como não poderíamos salvá-lo quando crescemos com tantas esperanças e certezas? Vale adicionar também que quem passou a infância e adolescência nos anos 2000 também viveu um país em transformação — tivemos dois governos Lula, com avamços sociais e econômicos e, na sequência, nossa primeira presidenta, Dilma Rousseff. Falar desse Brasil parece até loucura hoje em dia.

Tomamos tudo isso como verdades e certezas internas e, agora adultos, vemos o mundo desabando com um relógio que parece marcar o tempo de forma acelerada. Cada avanço tecnológico agora nos custa centenas de quilômetros de natureza consumida e contaminada. A qualidade dos alimentos decaiu tanto que sentimos a diferença não só nos sabores, como na nossa saúde. Direitos garantidos há décadas sendo debatidas e pautas que pareciam próximas da realidade se tornam absurdos utópicos. Se relacionar, interagir e viver de repente parecem mais difíceis do que antes. Me peguei pensando esses dias: onde está o sentimento de esperança e felicidade que o avanço tecnológico me trouxe? Até mesmo na área da saúde, onde raramente o avanço nos assombra, vemos um retrocesso gigantesco em aplicabilidade, acesso e políticas públicas.

De repente a esperança é certeza de um mundo melhor viram a frustração de uma derrota mal resolvida, o medo do desconhecido que não cheira a coisa boa e, claro, se tornam também sintomas físicos e mentais de viver essa realidade.

Há mais de um ano venho tentando buscar esperança, respostas, um motivo para continuar que fosse maior do que apenas estar viva — que, para mim, não é motivo suficiente para continuar viva. Descobri que a esperança está apenas na curiosidade e nas tentativas incansáveis de fazer dar certo. O que era o oposto do que eu queria, que fique bem claro. Eu esperava o surgimento de um movimento, uma teoria, um novo processo, uma garantia que tudo ficaria bem e que daríamos certo.

Esperava que nós conseguíssemos desacelerar o tempo. E ousava dizer que estava sem esperança! Talvez porque me assusta, até hoje, assumir que a esperança da realidade não é a mesma da fantasia. O que inspira esperança nas histórias que ouvíamos na infância não é o que vai nos inspirar no dia a dia. Não seremos super heróis, muito menos salvadores do mundo. Sequer acredito que o mundo precisa dessas duas coisas mais. Seremos sobreviventes, porque precisamos ser, e seremos agentes de mudança, porque queremos continuar vivendo ainda que sobrevivendo. E vamos achar esperança nas pequenas mudanças não porque temos a certeza de uma revolução, mas porque nos negamos a sobreviver só porque estamos vivos. Só aceitamos sobreviver porque estamos vivendo.

Mesmo que o mundo acabe enfim.

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