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Sobre ser mãe

Há nove anos, eu disse a mim mesma que aos 28 eu seria mãe. Como fosse. Com os 27 já batendo na minha porta, vejo meu sonho ficar mais distante porque ouso sonhar sozinha -- no sentido de não planejar ter esse filho com alguém. E tudo que você quer fazer sozinha é mais difícil, principalmente no sistema em que vivemos. Dificultar a vida solo também é uma arma do capitalismo, principalmente contra mulheres, porque se fosse fácil para nós termos tudo o que quiséssemos ter, perderiam o controle sobre nós.

Com o capitalismo se desmanchando e o cerco apertando, crise climática, política, social e econômica, você deve pensar que meu sonho de ser mãe diminui. Mas a parte da crise climática nunca antes vista pela nossa espécie, todos os outros desafios já foram vencidos ou, no mínimo, ultrapassados anteriormente. Então, assim como isso não impediu meus antepassados, também não mata meu desejo.

O que mata meu desejo, nos dias realistas (ou pessimistas), é saber que me tornar mãe solo será abraçar mais lutas. Viver mais dores e dificuldades para além da maternidade que, por si só, já é uma guerra e tanto. É saber que vou ter que abrir mão de tantos e tantos outros sonhos que por tanto tempo pareciam ser parte do pacote de ser mãe.

É saber que poderia ser mais fácil. Mas não é. E os caminhos que me facilitariam -- marido, casamento, o kit sistema -- iriam, aos poucos, matar a única coisa que eu conquistei nos últimos vinte e sete anos: eu mesma.

Sobre ser mãe... Espero que sim.

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