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Precisamos aprender a mentir.

Às vezes me pergunto como algumas mentiras tão óbvias perduraram no tempo. Tipo a superioridade masculina, talvez a maior mentira já contada, que vem há milênios perdurando com força total. Se a verdade, que sempre foi óbvia, não é suficiente, aprendamos então a mentir melhor. Criaremos o que for necessário para manter nossa mentira de pé: histórias, relatos, quem sabe uma religião, algumas leias... E por quê não todo um sistema político e econômico? Assim, a manutenção seria automática. Sem esforço consciente.

O primeiro passo é que precisamos acreditar na nossa mentira. Temos que passar certeza, autoridade, confiança e menosprezar qualquer outra narrativa que não seja a nossa. Eu não disse combater. Menosprezar o outro é a melhor forma de validar nossa mentira. Não precisamos de argumentos, temos a nossa verdade. O que os outros dizem não fará sequer sentido! Acreditamos apenas na nossa narrativa. Sem espaço para debates ou meio-termo.

O segundo passo é punir quem não pensa como nós. E aqui, podemos começar em casa, com nossas crianças. Aproveitemos que é nossa a responsabilidade de educá-los para que o façamos no caminho correto. Expandiremos, é claro, para todas as nossas outras relações sociais e não tenham receio em ser cruéis. É preciso acreditar. É preciso propagar. É preciso definir nossa verdade como a única régua moral entre certo e errado, bom e mau.

É impossível!, dirá o descrente. Mas já sabemos que sua opinião não importa. Faremos ser possível e se ele reclamar demais... Já sabem. Há lugar certo para todos.

Em dois mil anos, nossa verdade será a única narrativa possível e até aqueles que possam vir a duvidar do que estabelecemos irão ficar calados. Afinal, é impossível mudar o que já foi estabelecido por tantos séculos em uma sociedade.

Não é?

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