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O romance perde a importância quando você tem amigos. Mas não acaba.

Não fui apresentada ao conceito de amizade antes de conhecer o de romance. Embora a minha infância tenha sido cercada por adultos, não diria que é uma exclusividade minha, já que muitos amigos, e principalmente amigas, relatam o mesmo. Os "amiguinhos" são um conceito normalmente apresentado quando a criança entra na escola ou em uma atividade recorrente, onde essa figura se torna apenas "alguém para brincar". Todas as outras relações e referências são focadas em família e romance -- não me façam relatar como eu tive crush no KLB aos três anos de idade. Ops.

E aí você vê um monte de criança falando que quer namorar, quando o que elas buscam é a referência de rede de apoio, confiança, amor e segurança para além da família de sangue. E desde que nasceu, essa criança ouve que encontrará isso no romance, quando montar sua própria família. Principalmente mulheres, mas homens não estão longe disso. Eu poderia ficar dias aqui discorrendo sobre os caminhos e consequências de uma sociedade baseada apenas na estrutura família -- mas vou me limitar a dizer que o único beneficiado é o capitalismo.

Relaxa: esse não é um texto contra famílias. Como eu disse, o romance perde a importância quando você cria uma rede de amizades forte, mas ele não some da sua vida. E os impactos disso são positivos se você encontra uma pessoa com essa mesma estrutura pessoal ou disposta a construir uma. A relação é mais saudável, menos exigente e exaustiva, muito mais empática e leve. Os não-monogâmicos que me perdoem, mas a maior revolução não é o fim da monogamia (embora eu apoie essa causa) e sim a construção de redes de apoio. E você não precisa transar com toda sua rede de apoio.

A liberdade sexual é importante, principalmente se vamos questionar a instituição família como conhecemos, mas mais do que isso, a ideia de criar conexões em rede onde a troca de amor, carinho, suporte emocional e todo o pacote incluso em... Amizades. A instituição humana mais natural e mais linda. A conexão de se ver em outro individuo e de ser visto por ele, um sentimento baseado na confiança, na empatia e no amor por um outro que não é da sua família e muito menos seu parceiro/a amoroso.

Então sim, o romance perde a importância. Você perde o desespero por encontrar amor, já que é cercado por ele. Você não tem medo de términos, aquela não é sua única conexão. Você não tem medo de ser você mesmo, porque seus amigos já provaram que você é sim, digno de amor, respeito e muito mais.

E o romance não acaba. Ele só se torna mais difícil se você é uma mulher que se relaciona com homens, porque nem todos vão gostar de não ter controle total sobre você... E é desses que você mantem distância. Homens sem amigos? Sem amigas? Esses você não só mantem distância, como também não escuta.

Não existe nada mais revolucionário do que a amizade -- "esqueça" o amor próprio, esse discurso foi criado para vender produtos de autocuidado.  Se você não se vê no outro e não se sente visto por ele, você perde a noção do eu. É impossível se amar sem saber o que é verdadeiramente ser amado e ouso dizer que se você não tem verdadeiros amigos, talvez não saiba o que é isso.

Se queremos um futuro melhor, o primeiro passo é construirmos amizades. Pontes de afeto. Abandonar o individualismo neoliberal e voltar a entender e ser parte de uma comunidade, do coletivo. E se queremos romances melhores, também.

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