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A importância de sonhar: outra forma de plantar sementes de Romã

Poucas pessoas sabem disso, mas eu comecei a fazer terapia porque eu passava tempo demais "sonhando acordada" -- uma fuga para não pensar na minha realidade, no que a vida vinha se tornando em uma onda que mais parecia um tsunami. Sonhar sempre foi minha maior forma de escape ao ponto de, em épocas em que eu não precisei escapar de nada, eu mal sonhava. Mal escrevia, mal lia -- de certa forma, a busca pelo escape e pelo sonho também era o que me motivava a consumir arte e, principalmente, ficção.

E como ser adulto não é reconhecer seus problemas (crianças com base de educação emocional podem fazer o mesmo) e sim entender que eles existem e decidir o que fazer a partir disso e depois, de fato, realizar o planejado, eu tive que entender meu processo com os sonhos. O caminho não era calar minha criatividade, como eu apostava em 2018, mas algo muito mais difícil: moldar minha criatividade de forma que me ajude a ser um ser humano mais contente, realizado e dono de si.

Eu realmente acredito que tudo em nós pode ser de certa forma modificado. Nós falamos o tempo todo "as pessoas mudam!", mas em seguida dizemos "eu sou assim mesmo, não tem o que fazer". Hipócritas, covardes, todos nós. Sim, nós, porque eu já fiz o mesmo mais vezes do que conseguiria sequer me lembrar. Tudo em nós é mutável, não importa o quanto nós tentemos defender a existência de uma essência imutável, uma alma, um núcleo básico que é o que é e o será até nosso último respiro.

E isso não existe de forma alguma. Tudo em nós foi uma construção, de escolhas nossas e daquelas também feitas em nosso nome antes que pudéssemos decidir. O que é imutável para você hoje, sua base, seu núcleo, sua essência, tudo isso é apenas uma junção de ideias construídas por você nos últimos anos e que, no momento, fazem sentido de alguma forma para a sua narrativa. No momento em que elas não fizerem mais sentido e você quiser mudá-las, você pode.

E isso é assustador por vários motivos. Não ter um ponto de referência imutável é assustador. Agora, saber que você deve escolher se mudará ou não partes profundas de si mesmo é aterrorizante. Não existe mais "eu nasci assim", "minha cabeça funciona assim" ou "é assim que eu reajo as coisas" ou qualquer outra desculpa que se baseie na imutabilidade de quem se é. A primeira vez que cheguei nessa conclusão gritei alguns palavrões para as paredes.

Eu não sabia se era raiva da perda de controle, da perda das desculpas ou o puro medo de ter que escolher conscientemente. Não mudar agora não é mais confortável. Tudo é desconfortável até que eu normalize tomar essas decisões (ou é isso que eu digo a mim mesma para não me afobar nos processos).

Sonhar hoje não é mais uma forma de escape para mim -- porque agora, faço de modo consciente, com equilíbrio. Antes, sonhar era algo que me levava a terapia por me atrapalhar e hoje é minha ferramenta para não enlouquecer com a realidade do mundo. Hoje exercito sonhar de outras formas, separo momentos do meu dia para sonhar acordada sobre tudo e nada, porque é algo que me estimula a estar mais feliz, criativa e curiosa ao longo dos meus dias. É algo que eu poderia me afogar ou que eu poderia drenar completamente de mim, mas eu escolhi nutrir e cuidar para que esses pensamentos fluam na minha mente como um rio bem preservado.

É possível mudar, moldar e transformar até os nossos sonhos. Que nós possamos ver a mutação de nós mesmos mais como oportunidades do que como dores. Que eu permaneça mudando tudo em mim, também.

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